As Oliveiras Centenárias: Um Legado de Sabor e História no Coração do Azeite a Norte
- M. Araújo
- 7 de mai.
- 5 min de leitura
Atualizado: há 7 dias

As Oliveiras Centenárias. Dão mesmo bom azeite?
As oliveiras são uma das espécies da flora que dificilmente morrem.
Sobrevivem milhares de anos, havendo mesmo algumas catalogadas como tendo perto de 4 mil anos.
Ou seja, viram o início da era cristã. Estavam por cá no tempo dos romanos e viram-nos a desaparecer. Assistiram à revolução agrícola e aos primeiros tempos em que os humanos passavam de recoletores para agricultores e as primeiras cidades surgiam.
Impressionante não?!
Mas estas maravilhas da natureza e que o Homem idolatra e cuida há séculos, dão mesmo melhor azeite?
E as de Trás-os-Montes, que têm sido arrancadas para plantar novas oliveiras, muito por causa da rentabilidade e da falta de mão-de-obra, deviam ser mantidas pela sua qualidade?
As Oliveiras Centenárias: Um Legado de Sabor e História no Coração do Azeite a Norte
No nosso cantinho de reflexão, o "Azeitonas de Sabedoria", debruçamo-nos hoje sobre um tema que evoca tradição, resiliência e, claro, o ouro líquido que tanto prezamos: o azeite. Inspirados pela majestade das oliveiras centenárias e pelas questões levantadas no nosso primeiro capítulo, mergulhamos na essência do Azeite a Norte, explorando a sua ligação intrínseca com a história, o potencial do Olivoturismo e a importância de preservar um património natural e cultural inestimável, especialmente nas terras de Trás-os-Montes e Alto Douro.
As palavras iniciais transportam-nos para um tempo longínquo, onde as oliveiras, testemunhas silenciosas do desenrolar da história humana, lançavam as suas raízes profundas na terra. Imaginemos por um instante: estas árvores majestosas, algumas com milénios de existência, presenciaram a ascensão e queda de civilizações, as transformações da paisagem e a evolução das práticas agrícolas. É impossível não sentir uma profunda reverência perante estas entidades botânicas que ligam o nosso presente a um passado remoto.
A questão que emerge naturalmente é se esta longevidade se traduz numa qualidade superior do azeite. Será que as oliveiras centenárias, carregadas de história e resiliência, nos presenteiam com um néctar mais saboroso e aromático? A verdade é que a idade da oliveira, por si só, não é o fator determinante para a qualidade do azeite. No entanto, estas árvores antigas são frequentemente sinónimo de variedades tradicionais, perfeitamente adaptadas aos seus terroirs específicos. Ao longo de séculos, desenvolveram uma relação simbiótica com o solo, o clima e as práticas de cultivo locais, o que pode, inegavelmente, influenciar as características únicas do fruto e, consequentemente, do azeite.
Oliveiras centenárias: uma presença marcante na paisagem
Em Trás-os-Montes e no Alto Douro, regiões onde a cultura do azeite no norte tem raízes profundas, as oliveiras centenárias são uma presença marcante na paisagem. Os seus troncos retorcidos e as copas frondosas contam histórias de gerações de olivicultores, de invernos rigorosos e verões escaldantes. Estas árvores são parte integrante da identidade destas regiões, moldando a paisagem e a cultura local.
No entanto, o excerto inicial levanta uma questão preocupante: o arranque destas oliveiras antigas para dar lugar a novas plantações, motivado pela rentabilidade e pela escassez de mão-de-obra. Esta é uma encruzilhada complexa que nos obriga a ponderar os aspetos económicos, sociais e ambientais da produção de azeite. É inegável que as novas plantações podem apresentar maior produtividade e facilitar a colheita mecanizada, respondendo às exigências de um mercado cada vez mais competitivo. Contudo, a perda destas oliveiras centenárias representa um golpe profundo no nosso património.
Perdemos não apenas árvores, mas também uma biodiversidade única, variedades de azeitona ancestrais que podem possuir características genéticas valiosas e uma ligação histórica e cultural insubstituível. A substituição de olivais seculares por novas plantações homogéneas pode levar à erosão do conhecimento tradicional associado ao cultivo destas árvores e à produção de azeite com características distintas.
Olivoturismo e a valorização do património olivícola
É neste contexto que o Olivoturismo emerge como uma alternativa promissora e sustentável para valorizar o património olivícola do Azeite a Norte, particularmente em regiões como Trás-os-Montes e o Alto Douro. O Olivoturismo vai além da simples produção de azeite, oferecendo experiências imersivas no mundo da olivicultura. Através de visitas a olivais centenários, os turistas podem maravilhar-se com a imponência destas árvores, aprender sobre a sua história e o seu papel no ecossistema local.
As quintas e os produtores de azeite no norte podem abrir as suas portas, convidando os visitantes a participar nas colheitas, a conhecer os processos de produção artesanais, a degustar diferentes variedades de azeite e a descobrir os segredos da gastronomia local que utiliza este ingrediente essencial. O Olivoturismo pode incluir caminhadas pelos olivais, workshops sobre azeite, visitas a lagares tradicionais e a museus dedicados à cultura da oliveira.
Esta abordagem multifacetada não só proporciona uma fonte adicional de rendimento para os produtores, ajudando a tornar economicamente viável a manutenção dos olivais antigos, como também sensibiliza os consumidores para a importância da qualidade, da origem e da história por detrás de cada garrafa de azeite. Ao vivenciarem a beleza dos olivais centenários e a paixão dos produtores, os visitantes tornam-se embaixadores do Azeite a Norte, valorizando a sua autenticidade e singularidade.
Em Trás-os-Montes e no Alto Douro, o Olivoturismo tem um potencial enorme para complementar a já rica oferta turística destas regiões, conhecida pela sua paisagem deslumbrante e pela sua gastronomia tradicional. A combinação destes elementos pode criar experiências únicas e memoráveis para os visitantes, atraindo um turismo mais consciente e interessado na cultura e nos produtos locais.
É crucial que se encontrem formas de equilibrar a rentabilidade da produção de azeite com a preservação do nosso património olivícola. Incentivos financeiros, apoios técnicos e a promoção do Olivoturismo podem ser ferramentas importantes para garantir que as oliveiras centenárias de Trás-os-Montes e do Alto Douro continuem a fazer parte da nossa paisagem e a produzir azeite de excelência.
Preservar o Azeite a Norte
A questão levantada no nosso primeiro capítulo não tem uma resposta simples. As oliveiras centenárias podem não garantir, por si só, um azeite "melhor" em termos absolutos. No entanto, elas representam um elo com o passado, uma fonte de biodiversidade e um testemunho da resiliência da natureza. Preservá-las é preservar a nossa história, a nossa cultura e a identidade única do Azeite a Norte.
O Olivoturismo surge como um caminho promissor para valorizar este património, para educar os consumidores e para criar novas oportunidades económicas nas regiões produtoras, como Trás-os-Montes e o Alto Douro. Ao abraçarmos o potencial do Olivoturismo, podemos garantir que as oliveiras centenárias continuem a dar os seus frutos, não apenas em termos de azeite de qualidade, mas também em termos de experiências enriquecedoras e de um futuro mais sustentável para o Azeite a Norte.
No "Azeitonas de Sabedoria", acreditamos que o verdadeiro valor do azeite vai além do seu sabor e das suas propriedades nutricionais. Reside também na história que carrega, na paisagem que molda e nas pessoas que o produzem. As oliveiras centenárias são um símbolo poderoso desta ligação, um lembrete constante da importância de honrar o passado enquanto construímos o futuro do Azeite a Norte. Continuemos esta conversa, partilhando saberes e azeites, sempre com a sabedoria das oliveiras como guia.
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