
A Oliveira em TMAD
O cultivo da oliveira nesta região não é apenas uma atividade económica, mas um elemento cultural profundamente enraizado que remonta à Antiguidade, tendo evoluído para uma combinação entre tradição produtiva e potencial turístico através do olivoturismo.
A Oliveira em Trás-os-Montes: História, Variedades e Contribuição para o Olivoturismo Regional
A região de Trás-os-Montes representa um dos pilares fundamentais da olivicultura portuguesa, destacando-se como a segunda maior zona produtora nacional, com características singulares que conferem aos seus azeites propriedades organolépticas únicas.
O cultivo da oliveira nesta região não é apenas uma atividade económica, mas um elemento cultural profundamente enraizado que remonta à Antiguidade, tendo evoluído para uma combinação entre tradição produtiva e potencial turístico através do olivoturismo.
A riqueza das variedades autóctones como a Cobrançosa, Madural e Verdeal Transmontana, adaptadas ao terroir transmontano, permitem a produção de azeites DOP de excelência que conquistam reconhecimento nacional e internacional, enquanto sustentam um património agrícola e cultural que constitui hoje uma oportunidade de desenvolvimento territorial.
História da Oliveira em Trás-os-Montes
A presença da oliveira na região de Trás-os-Montes remonta à Antiguidade, revelando uma tradição multissecular de cultivo e produção que moldou a paisagem e a cultura local. Embora não haja registos precisos sobre o início do cultivo, sabe-se que a plantação sistemática de olivais em Mirandela, um dos principais centros olivícolas da região, data possivelmente da primeira metade do século XVI[1].
Evolução Histórica da Produção
A olivicultura transmontana experimentou um crescimento substancial no final do século XIX. Em 1894, a produção atingiu a marca significativa de 776 quilolitros de azeite, demonstrando a importância económica que esta cultura já assumia na época[1]. Apenas dois anos depois, em 1896, existiam já 12 lagares de azeite apenas na vila de Mirandela, evidenciando o desenvolvimento da indústria transformadora associada à oliveira[1].
O reconhecimento da qualidade do azeite transmontano também tem raízes históricas. Em 1903, o azeite da região conquistou a medalha de prata na Exposição Agrícola, um marco importante na valorização deste produto regional[1]. Esta distinção representou um dos primeiros reconhecimentos formais da excepcionalidade do azeite produzido nesta zona do país.
A Oliveira como Elemento Cultural
Na "Terra Quente" de Trás-os-Montes, a oliveira sempre foi considerada uma árvore de grande valor, chegando mesmo a ser tratada como uma árvore sagrada devido ao seu rendimento e à importância do azeite na economia e alimentação locais[1]. Esta veneração da oliveira transcende o aspecto meramente produtivo, refletindo uma relação profunda entre as comunidades transmontanas e esta cultura.
Variedades de Oliveira na Região Transmontana
A região de Trás-os-Montes distingue-se pela presença de variedades autóctones que conferem características singulares aos azeites ali produzidos. As principais variedades cultivadas na região são:
Variedades Predominantes
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Verdeal Transmontana: Variedade emblemática da região, contribui para o perfil sensorial característico dos azeites transmontanos[2][3].
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Madural: Uma das variedades tradicionais que integra a composição do Azeite de Trás-os-Montes DOP, proporcionando equilíbrio às misturas[1][3].
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Cobrançosa: Variedade de grande difusão em Portugal, sendo uma das principais na região transmontana, contribuindo para a riqueza sensorial dos azeites locais[2][3].
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Cordovil de Trás-os-Montes: Variedade regional que complementa as anteriores na composição dos azeites tradicionalmente produzidos na região[1][2].
A presença destas variedades autóctones constitui uma riqueza genética importante, especialmente num contexto de alterações climáticas, pois representam material vegetal adaptado às condições edafoclimáticas específicas da região ao longo de gerações[2].
Características do Azeite de Trás-os-Montes DOP
O Azeite de Trás-os-Montes com Denominação de Origem Protegida (DOP) representa a excelência da produção oleícola da região, apresentando características distintivas que o valorizam no mercado nacional e internacional.
Perfil Sensorial e Características Diferenciadoras
O azeite desta região destaca-se por ser equilibrado, com cheiro e sabor a fruto fresco, características que o diferenciam de outros azeites nacionais[1][4].
Frequentemente, apresenta notas amendoadas combinadas com uma sensação harmoniosa entre o doce, o verde, o amargo e o picante[4]. Esta conjugação de atributos sensoriais resulta da combinação das variedades locais com as condições peculiares de solo e clima da região.
Área de Produção e Certificação
A área de produção do Azeite de Trás-os-Montes DOP abrange diversos concelhos da região, incluindo Mirandela, Vila Flor, Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Vila Nova de Foz Côa, Carrazeda de Ansiães e algumas freguesias dos concelhos de Valpaços, Murça, Moncorvo, Mogadouro, Vimioso e Bragança[1]. Esta delimitação geográfica assegura a ligação entre o produto e o território.
A certificação como DOP é assegurada por um organismo de controlo e certificação (Kiwa Sativa - Unipessoal, Lda.), garantindo a autenticidade e qualidade do produto conforme os parâmetros estabelecidos no caderno de especificações[1].
Qualidades Organolépticas das Diferentes Variedades
Cada variedade de oliveira contribui com atributos específicos para o perfil sensorial dos azeites transmontanos, resultando em produtos com características distintas que podem ser apreciados isoladamente ou em misturas equilibradas.
Perfis Sensoriais por Variedade
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Verdeal Transmontana: Produz azeites com notas vegetais pronunciadas, destacando-se aromas de erva e frutos verdes secos. Na boca, apresenta amargor e picante bem marcados, com boa persistência[3].
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Cobrançosa: Origina azeites com complexidade aromática, combinando notas herbáceas com toques de frutos secos. Tendencialmente menos amargos que os da Verdeal, mantendo um picante equilibrado[3].
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Madural: Confere aos azeites notas frutadas, por vezes com reminiscências de banana e frutos maduros. O amargor e picante são moderados, resultando num perfil mais suave[3].
A combinação destas variedades resulta em azeites complexos e equilibrados, com notas de erva e tomate, amargor e picante harmoniosos e persistentes, que intensificam o sabor dos alimentos, como demonstrado na experiência com a famosa Posta Mirandesa[3].
O Olivoturismo em Trás-os-Montes
O olivoturismo surge como um produto turístico emergente com relevância crescente no desenvolvimento dos territórios olivícolas, incluindo a região transmontana. Este segmento especializado do turismo rural e gastronómico centra-se na cultura da oliveira e na produção de azeite.
Desenvolvimento e Potencial
O olivoturismo em Trás-os-Montes tem vindo a ganhar expressão como uma forma de diversificação da oferta turística regional, aproveitando a riqueza patrimonial associada à cultura da oliveira[3]. A região, sendo a segunda maior zona de produção nacional, beneficia da autenticidade dos seus olivais autóctones (Cobrançosa, Madural e Verdeal Transmontana) e do terroir único, que permite a produção de excelentes Azeites Virgens Extra DOP com atributos diferenciadores[3].
Roteiros e Experiências Olivoturísticas
A região de Trás-os-Montes oferece diversos roteiros e experiências centrados na oliveira e no azeite, proporcionando aos visitantes um contacto direto com esta cultura ancestral.
Principais Experiências Disponíveis
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Visitas a Produtores e Lagares: Produtores abrem as suas portas aos visitantes, permitindo conhecer o processo produtivo do azeite, desde o olival até ao produto final[3][5]. Estas visitas incluem frequentemente provas de diferentes lotes e monovarietais, assim como degustação de azeitonas de diferentes variedades.
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Museu da Oliveira e do Azeite: Situado em Mirandela, num edifício de arquitetura industrial, este museu oferece uma viagem no tempo, permitindo compreender a atividade do varejo da azeitona, transporte e produção, além de exibir coleções de utensílios relacionados com a cultura olivícola[3].
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Experiências Gastronómicas: A integração do azeite na gastronomia local constitui um elemento fundamental do olivoturismo, como exemplificado pela experiência da Posta Mirandesa finalizada com um fio de Azeite Virgem Extra[3]. Estas experiências permitem aos visitantes compreender como o azeite pode transformar e valorizar os pratos tradicionais.
Importância Económica e Cultural da Oliveira na Região
A oliveira desempenha um papel multifacetado na região transmontana, contribuindo simultaneamente para a economia, a cultura e a identidade territorial.
Dimensão Económica
A produção de azeite representa uma fonte importante de rendimento para muitas famílias e empresas na região. O reconhecimento da qualidade do Azeite de Trás-os-Montes, evidenciado pela certificação DOP, permite a valorização do produto nos mercados nacionais e internacionais, contribuindo para a sustentabilidade económica das comunidades rurais.
O olivoturismo emerge como um vetor de desenvolvimento económico, diversificando as fontes de rendimento dos produtores e criando novas oportunidades de negócio em áreas como a restauração, o alojamento e os serviços de experiências[3].
Valor Cultural e Patrimonial
Para além da sua dimensão económica, a oliveira representa um elemento identitário fundamental da região transmontana. Os métodos tradicionais de cultivo e produção, transmitidos de geração em geração, constituem um património imaterial de grande valor[1].
A crescente consciencialização sobre a importância da alimentação saudável beneficia o setor do azeite. Como observado por João Rosado, citado num dos resultados de pesquisa, "Os portugueses não valorizam a qualidade do produto nem a origem, mas começam a ter interesse pelo que comem e pelos alimentos. Enquanto gordura boa, o azeite beneficia com isso"[5]. Esta tendência representa uma oportunidade para a valorização do azeite transmontano como produto diferenciado e de qualidade superior.
Conclusão
A oliveira em Trás-os-Montes representa muito mais que uma simples cultura agrícola. É um símbolo da identidade regional, um motor de desenvolvimento económico e um ativo turístico com potencial crescente. A combinação única de variedades autóctones, condições edafoclimáticas particulares e saber-fazer tradicional resulta em azeites de excelência que expressam o terroir transmontano.
O olivoturismo surge como uma oportunidade para valorizar este património, conectando os consumidores e visitantes com a origem do produto, os métodos de produção e a cultura associada. As diversas experiências disponíveis, desde visitas a olivais e lagares até provas de azeite e refeições temáticas, constituem um complemento importante à oferta turística regional.
A plataforma Azeite a Norte posiciona-se, assim, como um veículo fundamental para a divulgação deste património e para a sensibilização tanto dos públicos locais como dos turistas para a riqueza e diversidade da olivicultura transmontana. Através da informação sobre a história, as variedades, as características organolépticas e as aplicações culinárias dos diferentes azeites, contribui para a formação de consumidores mais informados e para a valorização de um produto emblemático da região.
Fontes:
Depoimentos
